domingo, outubro 25, 2009

Somos matéria-energia


Assim, aos meus olhos a matéria
Tem conotações divinas
Você e eu, Eu e Tu
Somos mais do que matéria morta;
Participando, existimos
Na real natureza do Buda.

O deus triplo é a máxima instância
Ele é o poder criativo
De toda a matéria universal.
A prima causa deste mundo.
Ele se estende na eternidade
E se expande, é infinito;
É onisciente, consciente
De tudo que há para saber.

E também a matéria é infinita,
O espaço de todos os espaços.
O nome do tempo é eternidade-
Se não cortarmos em pedaços
Sua parte restrita pelo relógio
Para medir sua duração.
Herdamos muitas aptidões
De ancestrais distantes
Matéria-mente como unidade
É organísmico de verdade.

quinta-feira, outubro 01, 2009

Dedim de Prosa

O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranqüila.
Em silêncio. Sem dar conselhos.
Sem que digam: "Se eu fosse você..."
Rubem Alves


- Tardi, Dotô. - Boa tarde. Sente-se. - Careci não. Ficu di pé, memo. - Sente-se para eu poder examinar. - O Dotô é quem manda. - Mas fale-me. O que está acontecendo? - Ai, Dotô! Mi dá umas dor di veiz in quandu. - Que dor? - Aqui, óia. Nu estromagu. Beeem lá nu fundinhu.- Forte? - As veiz.. Trasveiz é anssim ó, di mansinhu.- E o que você faz? - Tem veiz que eu cantu. Trasveiz eu vô pra cunzinha fazê um bolu.- Tem outra dor?- Tenhu, sim, Dotô. Aqui, ó. Pertu dus óio.- E essa é forte?- Também é forte não. Quandu ela dá eu cunversu cas vizinhas i passa. - Outra?- Tenho sim senhô. Aqui. Anssim, nu meio das custela, pareci nu coração. Dá uns apertu aqui, ó.- E você faz o que?- Tem veiz qui eu choru. Trasveiz eu ficu anssim, muitu da queta pra vê si passa.- E passa?- As veiz. Trasveiz eu vô pra pracinha.. Lá eu sentu num bancu vê as criança brincá prá esperá passá..- Você mora com alguém?- Moru não, Dotô. Sô sunzinha nessi mundão di Deus.- Não tem família?- Aqui tenhu não. Minha famia é todinha du interiô du sertão, pertinhu de Urandi, lá quasi im Minas. I vim sunzinha pra Sum Paulu tentá a vida. - E você faz o que?- Óia, Dotô. Eu já fiz um cadinhu di tudu nessa vida. Já trabaiei numa firma di limpeza, já cuidei di criança. Já trabaiei numa casa di genti rica. Agora eu trabaio cuma mocinha qui mais viaja qui fica im casa. Ela avua num avião di dia i di noiti. Aí eu ficu sunzinha..- Você mora com ela?- Moru sim, Dotô. Ela dexa eu drumi num quartinhu lá nus fundu da casa. - Sabe cozinhar?- Oxa si não! Cunzinhu muitu du bem! Coisa mais simpres anssim i coisa mais di genti chiqui.- Gosta de crianças?- Ô, seu Dotô. É as criaturinha mais anjinha qui Deus botô nu mundu!- Qual o seu nome mesmo? - Óia, Dotô. Eu num gostu muitu, mas a modi agrada a santa, minha mainha botô Crara.- Dona Clara. Eu sei o que a senhora tem.- Comu anssim, si o Dotô nem incostô im mim?- O que a senhora tem Dona Clara, chama-se solidão e é a causadora de toda essa tristeza. - I issu mata, Dotô?
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