sexta-feira, julho 29, 2011

Feche a boca e abra os braços


Uma amiga ligou com notícias perturbadoras: a filha solteira estava grávida.

Relatou a cena terrível ocorrida no momento em que a filha finalmente contou a ela e ao marido sobre a gravidez.

Houve acusações e recriminações, variações sobre o tema "Como pôde fazer isso conosco?" Meu coração doeu por todos: pelos pais que se sentiam traídos e pela filha que se envolveu numa situação complicada como aquela.

Será que eu poderia ajudar, servir de ponte entre as duas partes?

Fiquei tão arrasada com a situação que fiz o que faço – com alguma frequência – quando não consigo pensar com clareza: liguei para minha mãe. Ela me lembrou de algo que sempre a ouvi dizer. Imediatamente, escrevi um bilhete para minha amiga, compartilhando o conselho de minha mãe:

"Quando uma criança está em apuros, feche a boca e abra os braços."

Tentei seguir o mesmo conselho na criação de meus filhos. Tendo tido cinco em seis anos, é claro que nem sempre conseguia. Tenho uma boca enorme e uma paciência minúscula.

Lembro-me de quando Carla, a mais velha, estava com quatro anos e derrubou o abajur de seu quarto. Depois de me certificar de que não estava machucada, fiz um discurso sobre aquele abajur ser uma antiguidade, sobre estar em nossa família há três gerações, sobre ela precisar ter mais cuidado e como foi que aquilo tinha acontecido – e só então percebi o pavor estampado em seu rosto. Os olhos estavam arregalados, o lábio tremia.

Então me lembrei das palavras de minha mãe. Parei no meio da frase e abri os braços.

Carla correu para eles dizendo: – Desculpa... Desculpa – repetia, entre soluços. Nos sentamos em sua cama, abraçadas, nos embalando. Eu me sentia péssima por tê-la assustado e por fazê-la crer, até mesmo por um segundo, que aquele abajur era mais valioso para mim do que ela.

– Eu também sinto muito, Carla – disse quando ela se acalmou o bastante para conseguir me ouvir. Gente é mais importante do que abajures.

Ainda bem que você não se cortou.

Felizmente, ela me perdoou.

O incidente do abajur não deixou marcas perenes. Mas o episódio me ensinou que é melhor segurar a língua do que tentar voltar atrás após um momento de fúria, medo, desapontamento ou frustração.

Quando meus filhos eram adolescentes – todos os cinco ao mesmo tempo – me deram inúmeros outros motivos para colocar a sabedoria de minha mãe em prática: problemas com amigos, o desejo de ser popular, não ter par para ir ao baile da escola, multas de trânsito, experimentos de ciência malsucedidos e ficar em recuperação.

Confesso, sem pudores, que seguir o conselho de minha mãe não era a primeira coisa que me passava pela mente quando um professor ou diretor telefonava da escola. Depois de ir buscar o infrator da vez, a conversa do carro era, por vezes, ruidosa e unilateral.

Entretanto, nas ocasiões em que me lembrava da técnica de mamãe, eu não precisava voltar atrás no meu mordaz sarcasmo, me desculpar por suposições errôneas ou suspender castigos muito pouco razoáveis.

É impressionante como a gente acaba sabendo muito mais da história e da motivação atrás dela, quando está abraçando uma criança, mesmo uma criança num corpo adulto.

Quando eu segurava a língua, acabava ouvindo meus filhos falarem de seus medos, de sua raiva, de culpas e arrependimentos.

Não ficavam na defensiva porque eu não os estava acusando de coisa alguma. Podiam admitir que estavam errados sabendo que eram amados. Dava para trabalharmos com "o que você acha que devemos fazer agora", em vez de ficarmos presos a "como foi que a gente veio parar aqui?"

Meus filhos hoje estão crescidos, a maioria já constituiu a própria família.

Um deles veio me ver há alguns meses e disse "Mãe, cometi uma idiotice..."

Depois de um abraço, nos sentamos à mesa da cozinha.

Escutei e me limitei a assentir com a cabeça durante quase uma hora enquanto aquela criança maravilhosa passava o seu problema por uma peneira.

Quando nos levantamos, recebi um abraço de urso que quase esmagou os meus pulmões.

– Obrigado, mãe. Sabia que você me ajudaria a resolver isto.

É incrível como pareço inteligente quando fecho a boca e abro os braços.

ISTO NÃO É "IMPORTÂNCIA" E SIM "SABEDORIA"!

O pior é que, muitas vezes (na maioria delas),
fazemos (não só com a crianças) exatamente o contrário...
abrimos a boca e fechamos os braços.
Diane C. Perrone


Histórias para aquecer o coração das mães

Jack Canfield, Mark Victor Hansen e outros

Editora Sextante

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quarta-feira, julho 06, 2011

Você poderia apenas escutar?



Quando eu lhe peço que me escute e você me dá conselhos, você não faz o que eu lhe pedi.
Quando eu lhe peço que me escute e você diz que eu não deveria me sentir assim, você está pisando em meus sentimentos.
Quando eu lhe peço que me escute e você acha que deve fazer alguma coisa para resolver meus problemas, você me enfraquece, por estranho que possa parecer.

Escute! Tudo que lhe peço é que me escute.
Nada fale ou faça, apenas escute.
Conselho é coisa barata, podemos conseguir em qualquer lugar.

Quando você faz algo por mim que eu mesmo possa ou precise fazer, você contribui para minha sensação de medo e inadequação, mas quando aceita como um simples fato que eu me sinta como me sinto, não importa quão irracional possa ser, então eu posso desistir de tentar convencê-lo e posso mergulhar no trabalho de compreensão.

Sentimentos irracionais têm sentido quando entendemos o que está por trás deles e quando isto fica claro as respostas são óbvias e não preciso de conselhos.
Talvez seja por isso que as preces às vezes não funcionam para algumas pessoas.
Pois Deus é mudo e não dá conselhos tentando esclarecer as coisas.
Deus apenas escuta e deixa você resolver sozinho.

Então, por favor, apenas escute e se quiser falar, espere um minuto por sua vez que eu o escuto.

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sexta-feira, maio 27, 2011

Sobre o Psicoterapeuta


Nossa visão do terapeuta (psicólogo) é que ele é semelhante aquilo que o químico chama de catalisador, um ingrediente que precipita uma reação, que de outra maneira não poderia ocorrer. Ele não determina a forma da reação, que depende das propriedades reativas intrínsecas das substâncias presentes, e tampouco participa de qualquer composto que venha a ser formado com a sua ajuda. O que ele faz é simplesmente dar início a um processo, e há alguns processos que ao serem iniciados são automantenedores e autocatalíticos. Admitimos ser esse o caso da terapia (psicoterapia). O médico (psicólogo) põe a funcionar, o paciente continua sozinho. O "caso bem-sucedido", não é uma "cura" no sentido de um produto acabado, mas uma pessoa que sabe que possui ferramentas e equipamento para lidar com os problemas à medida que estes surjam. Ele ganhou espaço para trabalhar, sem ser estorvado pelas bugigangas acumuladas das transações iniciadas mas não acabadas.


Em casos tratados sob essa formulação, o critério do progresso psicoterapêutico cessa de ser uma questão de debate. Não é uma questão de "aceitação social" aumentada ou melhores "relações interpessoais", vistos pelos olhos de uma autoridade estranha e autoconstituída, porém a própria tomada de consciência por parte do paciente de sua vitalidade elevada e modo de funcionar mais efetivo. Embora os outros possam também notar a mudança, a opinião deles sobre o que aconteceu não é o teste para a terapia(psicoterapia).

Perls era médico e desenvolveu a Gestalt-Terapia usando também os conhecimentos e conceitos médicos. Assim, os termos Terapeuta e Terapia, foram transformados hoje, em Psicoterapia e Psicólogo.

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